a cegueira da figueira

sinto o teu tronco
bojudo
e uma tonta praga na boca

os teus braços são estrondosos
não como o arbusto
que eras dantes

em que a raiz era seiva louca
na dor dum vulto rabudo

mil folhas aturavam o teu seio
na horta
onde eras planta única

de mel os teus frutos
a chamar
iravam-me de tanto os olhar

sem os puder saciar na foz
morrendo com o gosto a meio

só de pensar

jazo agora
a teu lado na chamiça

sou o achado que te afagava a touca

nas noites
me mentias com a lua

via bem nas manhãs
a seiva crua

que jorrava da casca
tapada pouca

figueira cega
com figos de cobiça

ferool

Sem comentários: